Sobre ficar 5 dias (quase) em silêncio "Talvez essa quietude lhe trouxesse repouso. Mas o silêncio é um ovo às avessas: a casca é dos outros, mas quem se quebra somos nós." Mia Couto
Fui fazer um retiro de autoconhecimento. Não era oficialmente um retiro de silêncio e, se fosse, acho que eu não teria ido. Não curto muito isso de me obrigarem a (deixar de) fazer algo. É aquela história, se te disserem para não pensar em uma maçã, pronto você já está pensando. E quanto mais luta contra isso, mais as maçãs se multiplicam na sua mente.
Mas, chegando lá, a recomendação era que ficássemos em silêncio. O silêncio não era a finalidade do trabalho e ninguém estava nos vigiando. O objetivo era mergulharmos em nós mesmos, e o silêncio era só um meio para fazermos isso. Decidi topar o desafio, mesmo com medo.
O primeiro passo e mais óbvio era me desconectar. Dei uma olhada de “até logo” nas redes sociais. Estar online era a forma mais fácil de quebrar o silêncio sem dizer uma palavra. Percebi que nem precisava colocar o celular em modo avião. Bastava desligar o Wi-Fi e o plano de dados, afinal, hoje em dia quem liga e manda sms? Dessa forma, ficava aberta uma linha de conexão com o “mundo lá fora”. Se algo muito importante acontecesse, eu ficaria sabendo. Isso dava uma tranquilizada, pois sem ter nenhum meio de contato, acho que bateria um desespero de “se acontecer algo, não terão como falar comigo” - e aí a cabeça viaja pensando em tudo de terrível que poderia ter acontecido. Fantasmas.
E a experiência foi mais ou menos assim:
Dia 1: acordo empolgada com a ideia do silêncio. Vejo os lados positivos da experiência. Morro de preguiça de fazer small talk durante as refeições e intervalos. Estou livre disso, oba! Não falo com as pessoas, nem tenho vontade de ligar a internet. Mas, tampouco minha mente está silenciosa. Minha cabeça é um parque de diversões e é fácil ficar comigo mesma desse jeito. Quando quero falar, escrevo. Começo a encarar o retiro não como de autoconhecimento, mas de criatividade. [continua]