Algumas breves impressões sobre os protestos aqui em Bogotá: os participantes são em grande maioria muito jovens (18 a 20 e poucos anos). Pessoas mais velhas muitas vezes apoiam, mas são poucas as que saem às ruas. As pautas são diversas, como: mais recursos para educação, fim da corrupção, respeito aos acordos de paz, contra a repressão armada dos protestos, contra a reforma previdenciária, legalização do aborto, da maconha e muito mais. Vi protestos todos os dias, todos muito pacíficos e até artísticos. Ao mesmo tempo, o aparato de segurança era assustador, incluindo até tanque de guerra nas ruas. Além das muitas pautas nacionais, nota-se também uma clara influência de tudo o que se passa na América Latina. Vendo de um ponto de vista brasileiro não dá pra não pensar no quanto estamos passivos diante de nossos próprios problemas. Algumas pessoas me perguntaram “quando tudo isso vai acontecer no Brasil?”. Com uma visão bem pessimista, fico pensando se já não aconteceu... é que os protestos aqui me lembraram muito os nossos de 2013 e o resultado... bem, todos sabemos. 🔺Nos vídeos, os manifestantes cantam: 🎶”venham ver, isso não é um governo, são os paracos (paramilitares) no poder” e “por quê nos assassinam se somos a esperança da América Latina”.
Sobre o ridículo – medo de fantasmas
Quando eu era criança, eu não tinha medo de fantasmas. Mas, à medida que fui crescendo, comecei a acreditar neles. Um que muito me assombrou foi o fantasma do ridículo. Diz o dicionário que “fantasma” é “uma imagem ou visão quimérica e assustadora”. “Ridículo” é aquilo “que provoca riso, escárnio ou zombaria”. E o medo do ridículo nada mais é que achar que você será isso que provoca riso, escárnio ou zombaria.
Já deixei de fazer muuuita coisa por medo desse fantasma. Logo eu que, desde criança, fui sempre tão racional e achava que fantasma nem existia... Descobri que existe, sim! Carl Jung dizia que, se algo produz efeito, é real, existe. Quer efeito mais dramático do que definir o que fazemos ou deixamos de fazer na vida?
Primeiro, precisei aceitar isso: fantasmas existem. Aos poucos, fui criando a coragem de enfrentá-los. Levantar o lençol e ver o que dava vida àquelas assombrações.
E sabe o que encontrei por baixo do lençol do ridículo? Uma vontade pretenciosa e desesperadora de agradar todo mundo. Se não fosse para agradar todo mundo, era melhor nem fazer. E como agradar todo mundo é impossível, adivinha? Era bem isso que eu fazia: nada. Se eu não tivesse A melhor coisa do mundo para falar, por quê me manifestar? E é claro que eu não tenho A melhor coisa, assim, no superlativo. Então, eu me calava. E me calei muitas vezes.
Junto com isso, tinha também a ideia de que meu valor vinha do que eu faço/falo. E aí uma crítica, uma discordância, por menor que fossem, eram sentidas como um ataque a quem eu sou. E, assim, eu ia alimentando esse tal fantasma do medo do ridículo.
Se hoje estou assumindo esse lugar de me expressar mais, não foi porque descobri a fórmula mágica para agradar a todos, mas porque tenho tentado me libertar dessa exigência impossível. Tenho tentado abraçar mais a minha vulnerabilidade, como sugere a Brené Brown nesse Ted maravilhoso.
Ainda tem muitos fantasmas que me assombram, é fato. Sigo reunindo a coragem para levantar outros tantos lençóis. E você, o que já deixou de fazer por esse ridículo medo de fantasmas? E por medo do fantasma do ridículo? @sobreasaseraizes