Meu filho, vou te dizer que eu não achei que ia viver para ver essas coisas, não. O mundo está mesmo estranho esses dias. Já nem sei o que acontece na vizinhança, porque me proibiram de sair até para comprar pão. A Dona Antônia, da casa ao lado, já nem lembro bem da cara dela… deve estar lá trancada que nem eu. Das receitas do almoço de domingo também já venho me esquecendo… já que ninguém mais vem.
Pera aí… não vai embora ainda, não. Alguém vai ter que me ajudar a mexer nisso aqui. Você está dizendo que é um telefone, mas não tem nem botão! Como assim, é só encostar que aparece tudo aí? Nossa! Parece até mágica!
Esses meninos hoje em dia, antes mesmo de aprender a andar ou falar já sabem mexer em tudo quanto há… Tem que fazer cadastro, meu filho? Faz aí para a vó… O quê? O computador está perguntando se eu sou um robô? Era só o que me faltava…
Na minha época, pelo menos as máquinas sabiam o lugar delas. As máquinas ajudavam as pessoas. É, meu filho, na minha época, as pessoas também ajudavam as pessoas. Vai ver é isso né… a máquina só segue o exemplo do dono… Acho que estamos precisando de seres mais humanos!